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Enquanto a sociedade organizada defende a democratização da comunicação – que passa por um “controle social” dos meios de comunicação, expressão que a grande mídia insiste em caracterizar como censura – a verdadeira censura segue institucionalizada nos bastidores das emissoras. O candidato José Serra segue acima do bem e do mal, cortando da folha de pagamento aqueles que questionem seu governo no Estado de São Paulo.

Nas últimas semanas dois jornalistas da TV Cultura (essa mesmo, que acreditamos ser educacional e cultural, portanto menos tendenciosa que as demais) foram demitidos após questionarem o aumento dos pedágios paulistas, um deles em uma entrevista ao vivo com o candidato tucano. Heródoto Barbeiro, apresentador do programa Roda Viva da emissora há mais de um ano, perguntou ao ex-Governador de São Paulo a razão do aumento dos pedágios estaduais durante seu governo e do também tucano Geraldo Alckmin. Serra se exaltou com o entrevistador, não respondeu, e o acusou de repetir o “trlololó petista”. A emissora anunciou esta semana sua substituição de Barbeiro pela jornalista Marília Gabriela.

Na mesma linha, o jornalista Gabriel Priolli, que tinha acabado de assumir o cargo de diretor de jornalismo da emissora, também decidiu cutucar a ferida dos pedágios e acabou na rua da mesma forma. Ele havia planejado uma matéria sobre o tema e conseguido declarações dos candidatos ao governo, Geraldo Alckmin e Aloizio Mercadante. Porém, a Secretaria dos Transportes do Estado não respondeu às perguntas enviadas pelo jornalista e se recusou até a mandar uma nota oficial sobre o assunto. Faltando pouco para a matéria ser transmitida (com a informação de que o órgão não havia se pronunciado) Priolli foi chamado na sala do vice presidente da emissora, Fernando Vieira de Mello, para ser informado que a matéria não iria ao ar. No dia seguinte veio a demissão.

A mídia hegemônica no Brasil tem esta característica. Um círculo vicioso de poder, que mantêm no topo os mesmos, ou representantes dos mesmos, de mais de 50 anos atrás. A mídia é utilizada para promover e derrubar candidatos, que, em troca, irão manter os benefícios dos veículos de comunicação caso eleitos.

Grande parte da renda publicitária de jornais impressos é proveniente de propagandas e notas oficiais dos governos. O espectro eletromagnético que transmite as ondas de TV e rádio é de propriedade do Estado e as emissoras devem, teoricamente, cumprir normas para ter direito de utilização deste espectro. Estas normas (que incluem a apresentação de programas educativos e programação regional) não são fiscalizadas e novas concessões, que repartiriam a audiência, não são cedidas.

Podemos observar que José Serra tem uma excelente relação com os meios de comunicação, já que ninguém pode questionar o aumento dos pedágios em seu governo e nenhum de seus deslizes é comentado (apenas na internet, que é um espaço mais democrático). Dificilmente com um governo tucano conseguiremos quebrar este ciclo de poder que tanto prejudica o senso crítico da população, com matérias tendenciosas sendo publicadas pelos grandes meios de comunicação, que ainda são os mais influentes nacionalmente.

Comunicação é direito humano e a luta por um jornalismo de qualidade e verdadeiro e uma programação diversificada deve ser bandeira de todos, afinal, o público que recebe a informação é o principal interessado.